sexta-feira, 27 de março de 2009

Peter Molyneux fala sobre novos projetos, entrevista


27/03/2009 - 17h54
GDC: Peter Molyneux fala de novos projetos; leia entrevista
THÉO AZEVEDOEnviado especial a San Francisco
Gustavo Petró/Editora Europa

Peter Molyneux durante entrevista concedida ao UOL
Peter Molyneux está "light". Após a chegada às prateleiras de "Fable II", no ano passado, o proprietário está feliz com a receptividade do público e da crítica ao jogo, mas, como todo perfeccionista, aponta vários erros na produção e lamenta não poder corrigi-los.Em entrevista ao UOL, o produtor falou sobre futuros projetos, inclusive o próximo conteúdo adicional para download de "Fable II", intitulado "See in the Future". Aproveitou também para deixar no ar que tem em vista "Fable III" e que adoraria retomar um projeto como "Black & White".Cauteloso, mas livre do estresse que envolveu-o durante a produção do RPG exclusivo para Xbox 360, Molyneux falou ainda sobre games para PC, iPhone, jogos independentes e muito mais. Confira:

UOL: A GDC é um evento que, a cada edição, ilustra com mais força os jogos independentes. Qual é a sua opinião sobre os "indies"?

Peter Molyneux: Bem, acho que 2008 foi ótimo para quem desenvolve jogos independentes. Venho para a GDC e vejo muitos jogos, como "World of Goo", "Castle Crashers" e "Braid", que apareceram no ano passado. Ao vê-los, fico me lembrando de quando comecei com a produção de jogos. Lembro de quando criei "Populous": não tínhamos todos os recursos de hoje, como padrões de programação, produtores e diretores, e mesmo assim conseguimos fazer o jogo. Estes "caras" com quem conversei ontem [quarta (25), durante a premiação do IGF, o Festival de Jogos Independentes] têm o mesmo espírito, o mesmo fogo nos olhos, as ideias que não são simples, as idéias que fogem aos padrões e que quebram paradigmas. Isso é fantástico.Dois anos atrás eu diria para alguém que para entrar no ramo é muito difícil, que seria preciso trabalhar para uma grande empresa, cursar uma boa faculdade. Hoje, no entanto, posso dizer para você: faça como o pessoal de "World of Goo": encontre um amigo que possa ser um programador, um artista ou um animador. Juntem-se, sentem e busquem por uma ideia diferente das ideias de todo mundo e faça logo. Que bom que podemos fazer isso hoje.

UOL: Em entrevistas anteriores, você criticou muito o atual estágio do mercado de games para PC. Chegou a dizer que estava "em farrapos". Como você vê esta situação nos dias de hoje?Molyneux: O mercado de jogos para PC nunca esteve tão bem. O que mudou foi o gosto dos jogadores. Eles são muito mais casuais. Se você olhar para o site de alguns desenvolvedores como Reflective, Big Fish e Pogo, verá que eles fazem jogos casuais com muita freqüência e há muitos downloads lá.O mercado de jogos de PC mais exigentes, este sim, é um problema. E só deve piorar: se eu estivesse fazendo jogos para PC, tentaria usar o máximo do hardware. Mas agora, os fabricantes de PCs não estão lançando máquinas novas e os consumidores não tem necessidade de trocar de computador com tanta frequência. Mas com as novas tecnologias que estão surgindo, vejo algumas soluções. Eu ainda amo o PC e ainda amo o mouse; acho que é um grande dispositivo.

UOL: Mas vemos que as inovações passaram a acontecer mais nos videogames, e menos no PC. Jogadores casuais migram para o computador, enquanto os jogadores hardcore vão para os consoles. Os jogadores de PC da "velha guarda" ficam decepcionados.

Molyneux: Eu entendo isso. Se não fosse por jogos como "Fallout 3", eu não teria jogado nada no PC recentemente. É só pegar como exemplo os shooters, que nasceram no PC: hoje tudo o que você vê nos consoles é também lançado no PC. Mas se você conseguir fazer um jogo que atraia tanto os jogadores casuais quanto os hardcore no PC, algo bem no meio disso, você estará no caminho certo.O que é fascinante sobre os computadores é que há um bilhão de PCs no mercado. Se você olhar por essa janela [a entrevista foi realizada na suíte de um hotel], quantas pessoas lá nas ruas têm consoles e quantas delas têm um computador em casa? Se eu fosse apostar, 90% delas possuem PCs. Então, ainda existem oportunidades aí. O que é necessário é um produto mais abrangente. Existe jogos assim, mas são muito poucos.

UOL: Você se imagina desenvolvendo um jogo para PC para tentar mudar essa situação atual?Molyneux: O problema não são apenas os jogos. Um grande jogo pode mudar o mundo. Games como "Halo" e "Wii Sports" mudam o mundo. Não estou dizendo que seja impossível, mas as barreiras são enormes: é preciso desenvolver um jogo que funcione bem tanto em um PC fraco quanto em uma máquina poderosa para que o máximo de pessoas possam jogar. É necessário achar um meio de distribuir esse jogo. É preciso encontrar um meio de combater a pirataria. Não digo que seja impossível, é desafiador. Adoro desafios como este, mas não tenho planos para isso.

UOL: Você pensa em trabalhar em novas versões de franquias como "Populous", "Black & White" ou "Dungeon Keeper" no futuro?

Molyneux: Sim, mas não tenho os direitos sobre todos os jogos que você citou. Tenho os direitos sobre "Black & White", mas não sobre "Populous" e "Dungeon Keeper". Dito isso, tenho certeza de que se eu implorar à Electronic Arts, eles me devolveriam ou me deixaria produzir esses jogos.Eu estava pensando sobre a ideia por trás de "Black & White", que é genial. Com "Spore" e essa tecnologia de nova geração que temos hoje... bem, hoje (quinta-feira, 25) vou me encontrar com Will Wright para conversarmos. Nós dois falamos sobre conectar nossos jogos com frequência e que isso seria muito interessante. Ei, não estou revelando nada aqui (risos).Se você me perguntasse se eu gostaria de fazer "Populous" novamente, eu diria, bem, sim. Mas o grande diferencial do jogo é que ele era diferente de tudo o que já foi visto. Prefiro que alguém se inspire com "Populous 2000" ou "3000" e use essa ideia para criar um game novo.

UOL: Você parece menos estressado se comparado a eventos anteriores, quando fazia aparições para falar sobre a produção de "Fable II". Com o jogo lançado, você está satisfeito com o feedback da imprensa e dos jogadores?

Molyneux: Sim, estou. Acho que se você olhar para o seu próprio trabalho, seja um jogo, um filme ou uma pintura, e achar que está perfeito, estará mentindo para si mesmo. Quando olho para "Fable II", fico maravilhado com a comunidade que apóia o jogo. Algumas das opiniões sobre o jogo são brilhantes. Entretanto, tenho uma lista de 20 ou 30 coisas que, quando olho no jogo, gostaria de ter feito de outra forma. Por que não fizemos isso melhor? Por que a câmera se comporta desse jeito? Por que o diálogo está ruim aqui? Por que esse movimento é desse jeito? Por que aqui não colocamos essa visão? Esses pontos não me fazem olhar para o jogo e dizer que estou muito orgulhoso dele. De todos os jogos que já fiz, "Fable II" é o melhor.

UOL: Conteúdo adicional por download não seria uma solução para esses problemas?

Molyneux: É possível corrigir os problemas desse modo, mas você não pode fazer um patch em algo que alguém já jogou. Você já teve sua experiência. Não posso fazer um patch para "Fable II" porque os jogadores teriam que jogar o game de novo apenas para ver uma animação melhorada, por exemplo. E eu lamento por isso. Quem jogou "Fable II" em algum momento deve ter pensado que certas partes não ficaram tão boas.

UOL: Se você pudesse voltar no tempo, o que mudaria em Fable II?

Molyneux: Puxa, tenho uma mala de problemas, o que não é nada bom. Por exemplo, o refinamento das animações; a taxa de quadros poderia ser mais constante; a interação com cenários não ficou como eu queria; alguns diálogos não se encaixam no contexto do momento; a animação facial não está boa, o que não deixa o personagem tão crível; a mecânica da morte do personagem não está legal e precisaríamos reiniciar isso para deixá-la mais clara para o jogador; a mecânica do cachorro poderia ser melhor, pois ele poderia ajudar mais. Enfim, eu poderia continuar com essa lista aqui a tarde toda.

UOL: Você pode falar um pouco mais sobre o próximo conteúdo por download de "Fable II"?Molyneux: Anunciamos um novo conteúdo adicional por download chamado "See the Future", que é mais focado na história e deve ser lançado em questão de semanas. Não teremos multiplayer para quatro jogadores porque seria muito difícil fazer. Há certas regras sobre os DLCs: você não pode mudar o jogo demais porque se fizer isso terá que passar por muitos testes.UOL: Após o lançamento de "Fable II", as pessoas começam a se perguntar sobre "Fable III". Você gostaria de trabalhar em um novo jogo da série?Molyneux: Não posso dizer que estamos trabalhando em "Fable III", mas posso dizer o seguinte: não trabalharemos em nada de "Fable III" até que tenhamos ideias muito inteligentes. E são essas ideias que fazem "Fable" ser amado no mundo todo. É tudo o que posso dizer. E ideias inteligentes são o que me deixam empolgado.

UOL: O que você pensa sobre o iPhone? Você gostaria de desenvolver para a plataforma?Molyneux: Gosto da interface de toque. Tenho minhas críticas sobre o iPhone, que não é um sistema perfeito, mas por que não? É uma plataforma portátil e que você tem a todo tempo em suas mãos. Eu tiro meu chapéu para a Apple por ter desenvolvido algo tão bem feito e bonito. Pode vencer o PSP e até o DS.

UOL: Ouvimos algo sobre um tal "Projeto Dimitri". Você pode nos contar algo sobre isso?Molyneux: Não. Ainda não.

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